sexta-feira, 18 de junho de 2010

Medicina está otimista quanto à luta contra o câncer

O otimismo prevaleceu na 46ª conferência sobre o câncer da American Society of Clinical Oncology (ASCO), realizada em Chigado, onde foram anunciados progressos, apesar da doença avançar a passos largos e ter se convertido na segunda causa de morte no mundo.


"Nossa compreensão crescente da complexidade do câncer se traduz pelo desenvolvimento de terapias mais eficazes, mais dirigidas contra uma variedade de tumores", explicou Douglas Blayney, professor de medicina interna na Universidade de Michigan (norte dos Estados Unidos) e presidente da ASCO.

Os resultados mais alentadores revelados durante a conferência do fim de semana confirmam o crescente papel das terapias dirigidas a funções "vitais" de tumores ou que dopam o sistema imunológico para destruir as células cancerígenas, em comparação com a quimioterapia padrão.

Estes avanços mostraram aumento da sobrevivência sobretudo em doentes que sofrem de tipos de câncer avançados ou com mestástase, como o melanoma, contra os quais existem poucos ou nenhum tratamento.

Um anticorpo experimental monoclonal (Ipilimumab), que ativa as células T (timócitos) do sistema imunitário para destruir o câncer, deu pela primeira vez "resultados muito encorajadores" contra o melanoma avançado, um câncer de pele cuja incidência disparou há 30 anos.

Uma terapia experimental (crizonitinib), que neutraliza a enzima cinase de linfoma anaplásico (ALK), essencial para o crescimento das células cancerígenas, também revelou-se muito promissora contra a forma mais frequente de câncer de pulmão avançado em pacientes com um perfil genético particular. O de pulmão é o câncer mais frequente e mortal do mundo.

Outro ensaio clínico demonstrou que o tratamento específico Avastin, que bloqueia o crescimento dos vasos sanguíneos que levam os nutrientes e oxigênio necessários para o tumor, combinado com uma quimioterapia, permitiu prolongar o período que transcorre sem que um câncer de ovário progrida.

Um estudo demonstrou também que a radioterapia combinada com um tratamento hormonal reduz em 43% o risco de mortalidade dos homens afetados por um câncer localizado e avançado da próstata.

"O tema desta conferência é o avanço da qualidade dos tratamentos através da inovação", comentou Lynn Schuchter, professora de medicina na Universidade da Pensilvânia (leste).

"Realmente queremos melhorar a qualidade de vida dos doentes com terapias que produzem menos efeitos colaterais, cirurgias e radioterapias mais específicas", prossegue Schuchter.

Mas, apesar de todos esses progressos e da melhora dos tratamentos, a doença segue muito frequente nos Estados Unidos, lamenta a Associação americana do Câncer (ACS), segundo a qual foram registrados cerca de 1,5 milhão de novos casos em 2009, que provocaram mais de 560 mil mortes.

Um recente informe da Organização Mundial de Saúde estima que o número mundial de mortos por câncer pode duplicar até 2030 e alcançar os 13 milhões.

Com o envelhecimento da população nos países industrializados, cerca de um homem em cada dois e uma mulher em cada três serão diagnosticados com um câncer durante a vida, afirma a ACS.

Vários tipos de câncer (de fígado, pâncreas, ovários, pulmão e cérebro) são altamente mortais e se mantêm insensíveis às terapias existentes.

Mas a incidência do câncer está fortemente ligada ao modo de vida, o que faz que a prevenção possa supor uma grande diferença.

Desta forma, cerca de 40% da diminuição da mortalidade masculina de 1990 a 2006 foi resultado de uma baixa dos falecimentos do câncer de pulmão, do qual o tabagismo é a principal causa.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Vacina contra câncer de mama deve ir a teste dentro de um ano

Uma vacina contra o câncer de mama deverá ir a teste dentro de 1 ano, segundo reportagem publicada neste domingo pelo diário britânico "Daily Telegraph".


Uma droga que vem sendo testada tem dado mostras de impedir a aparição de tumores e também de atacar aqueles já presentes.

Pesquisadores dizem que, se bem-sucedida, ela poderia ser oferecida a mulheres antes de alcançarem meados de 40 anos, época em que o risco de câncer de mama começa a subir.

De acordo com estudos, a droga poderia acabar com mais de 70% dos cânceres de mama, salvando mais de 8 mil vidas por ano somente no Reino Unido.

Segundo a reportagem do "Daily Telegraph", o criador da vacina, Vincent Tuohy, da Clínica Cleveland, de Ohio, nos Estados Unidos, fez o prognóstico de que a vacina pode erradicar a doença por completo.

"Nós acreditamos que uma vacina preventiva de câncer de mama vai fazer com o câncer de mama o que a vacina contra a pólio fez com a pólio", disse ele. "Nossa visão é a de que o câncer de mama é uma doença que se pode prevenir por completo".

A vacina é baseada em uma proteína chamada alfalactalbumina, que age na maior parte dos tumores de câncer de mama.

Segundo a revista Nature Medicine, testes com ratos criados em laboratório para desenvolver câncer de mama aos 10 meses de idade, mostraram que a droga deixou-os livres de tumores.

A vacina estimula o sistema imunológico, capacitando-o para destruir a alfalactalbumina quando ela aparece, e assim evitar que tumores se formem.

A droga também aumentou o poder do sistema imunológico para encolher até a metade tumores pré-existentes, sugerindo que ela poderia ser usada também como tratamento, tanto quanto como vacina.

A necessidade de mais estudos em um número maior de mulheres significa que deve demorar pelo menos 10 anos antes que a vacina chegue ao mercado.

Folha de São Paulo

Acesso a drogas anticâncer é alvo de fórum

O difícil acesso a tratamentos de alto custo foi um dos grandes temas debatidos ontem, em São Paulo, no Fórum de Discussão de Políticas Públicas em Oncologia.


O encontro, realizado pelo Instituto Oncoguia, reuniu especialistas de órgãos públicos e privados e representantes de organizações de pacientes com a doença.

Para a maioria dos debatedores, um dos principais problemas enfrentados por quem tem câncer é a defasagem na lista do SUS (Sistema Único de Saúde) de medicamentos de alto custo.

Hoje, os remédios oncológicos são os mais requisitados por via judicial no Brasil.

Doentes têm obtido o direito de se tratar com drogas mais novas por meio de processos judiciais. Isso encarece (para o governo) e atrasa o tratamento (para o paciente).

"Quando o remédio é oferecido na lista do governo, é possível controlar melhor o tratamento", explica o oncologista Paulo Hoff, diretor-clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.

Sandro Martins, consultor em oncologia do Ministério da Saúde, disse que a atualização da lista de medicamentos do SUS esbarra nos altos preços das drogas.

Durante sua apresentação, Martins simulou a inclusão de nove medicamentos para tratar diferentes tipos de câncer. Esse acréscimo significaria, segundo ele, um custo adicional para o sistema de R$ 1 bilhão por ano.

Como comparação, os gastos do SUS em 2009 com rádio e quimioterapia foram de R$ 1,4 bilhão, segundo o ministério. Esse valor ainda está longe do necessário para atender a demanda dos pacientes, que também não conseguem ter acesso a tratamentos em tempo razoável.

"A questão dos remédios é só um entre todos o problemas para tratar o câncer no Brasil. A ideia do fórum é mostrar também outros gargalos: não dá para esperar 180 dias por uma cirurgia", exemplifica Luciana Holtz, presidente do Oncoguia.

Mais de 80 mil pacientes estão em filas para a radioterapia. Muitos aguardam até seis meses por vaga em local credenciado pelo SUS.

Folha de São Paulo